Nesta foto acima, durante um acampamento no Serrano, no ano de 1974, à margem do rio Santa Bárbara, junto a amigos, e Louis, antes de aderir ao cavaquinho, com seu violão, cantava nossas canções da época, entre Gonzaguinha, Fagner e Belchior. Eu apareço ao seu lado, em pé, segurando um colchão e o cabelo Blak Power. Saudade eterna amigo!
E não poderia ser diferente, pois na mesma edição em que saiu publicada a matéria, de minha responsabilidade, relatando aquele cenário de guerra que vi e vivi no necrotério do Baú, entre duas dezenas de caixões e familiares e amigos desesperados chegando para reconhecer os corpos, escrevi para o amigo, já cheio de saudade, em meu “Com-Mentando Monlevade”, esta mensagem que publico aqui na íntegra, pois foi o pior momento em minha vida enquanto repórter.
Existem pessoas. O Louis Bonifácio de Oliveira era uma dessas pessoas. Era um grande amigo e companheiro, para quem não tinha tempo ruim. O “Negão”, como era carinhosamente chamado pelos amigos, sabia mesmo era sorrir e passar para aquelas pessoas que com ele conviviam, fluídos sempre positivos. Não poderíamos nunca prever uma morte tão estúpida para uma pessoa tão tranquila. Goiabada cascão em caixa, muito raro. E tive o privilégio de conviver por vários anos: quando estudávamos no Polivalente e mesmo nos bons tempos de República, em Belo Horizonte. Ali estava o Louis, e não Luís ou Luiz. Sempre tirávamos nele aquela casquinha, de como um “negão” poderia ter um “nome francês”. Com sua calma e paciência, mesmo quando estava desempregado ou na pior, ele aguentava o sufoco e não perdia a ternura!.
Lembro-me muito bem da época da República da Rua Camélia (N. Suiça), do turco Seu Abdala, quando morávamos eu, o Louis, o Zaru, Mocréia, Licão, Liquinho, Lau Galalau, Celso, Gaguinho, Thomaz, Hilton Vassoura e Véio. Um reduto de monlevadenses e novaerenses, onde a farra estava no ovo, no macarrão e na cachaça. Tinha ali perto o Bar do Sr. Bizuca, onde o “pão molhado” conseguia, às vezes, matar nossa fome. Despistava o estômago. E o Bonifácio sempre segurava as pontas, e fazia-nos esquecer da tristeza com seu violão, e o “Negão” ainda não conhecia a mágica do cavaquinho. Tinha também a “secretária” Toninha, e as cuecas velhas do saudoso Lau, dependuradas num varal que ficava sobre o fogão. Era para colocar os panos de pratos. O Louis gozava o colega da Tieté, dizendo: “o barrinho da cueca está sujando as panelas, ô Galalau”. Tempo, em que a esperança estava em nossas cabeças, e o mestre e saudoso Gonzaguinha e o cearense Fagner cantavam nossos hinos.
O Louis Bonifácio, que acompanhou a calma do seu velho pai, Seu Totó, era também amigo dos campings que fazíamos no Serrano. Eu, ele, Clésio, Carlos Guilherme, Marquinhos, Gaguinho, Casinho, Eduardo, Julinho Bitiu, Bebeto e os saudosos Salvinho e Carlinhos Sr. Pedro. Lá íamos nós andando pela estrada do Forninho, até a chegada ao Serrano. E o “Negão” era quem preparava os pratos. Sempre sorridente naqueles dentes que viam escova ao menos cinco vezes por dia de tão brancos.
Lá se foi o Louis e fica a saudade! Lá se vai um amigo que tinha o sonho de voltar a João Monlevade e de aqui criar seus filhos. Um homem que falava do Brasil ainda com esperança, mesmo que este país tivesse tirado dele os sonhos. De família humilde. O “Luis do Cavaco”, do samba, do grupo “Afilhados do Sereno que, junto a Rominho, Zé Ricardo, Zé Afonso e também os saudosos Zaru e Pereira, foi um dos melhores grupos do genuíno samba de raiz de nossa região.Com seu sorriso, fazia chorar o seu cavaquinho, e cantava como ninguém as canções de seu ídolo Roberto Ribeiro, entre eleas “Amar como te te amei ninguém jamais amará”… Para você, meu amigo, Deus lhe dê um lugar merecido!
Nesta foto abaixo, “Luís do Cavaco” – o segundo da esquerda para a direita, ao lado de José Ricardo -, junto ao Grupo “Afilhados do Sereno”, defendendo uma música durante um Festival da Canção realizado no ginásio do Grêmio, nos anos 1980

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLII
Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!