Minha Crônica para o amigo “Luís do Cavaco”!

Existem  pessoas.  O  Louis  Bonifácio  de  Oliveira  era  uma dessas  pessoas. Era  um  grande  amigo  e  companheiro,  para quem não tinha tempo ruim. O “Negão”, como era carinhosamente  chamado  pelos  amigos,  sabia  mesmo  era sorrir e  passar  para  aquelas  pessoas  que  com  ele  conviviam,  fluídos  sempre  positivos.  Não  poderíamos  nunca  prever  uma morte  tão  estúpida para  uma pessoa  tão  tranquila. Goiabada cascão  em  caixa,  muito  raro.  E  tive  o  privilégio  de conviver por  vários  anos:  quando  estudávamos  no  Polivalente e  mesmo  nos  bons  tempos  de  República,  em  Belo  Horizonte.  Ali estava  o  Louis,  e  não  Luís  ou  Luiz.  Sempre  tirávamos  nele aquela  casquinha,  de  como  um  “negão”  poderia  ter  um “nome francês”. Com  sua  calma  e  paciência,  mesmo  quando  estava desempregado  ou  na pior,  ele  aguentava  o  sufoco e não perdia a ternura!.

Lembro-me  muito  bem  da  época  da  República  da  Rua  Camélia (N. Suiça),  do  turco  Seu  Abdala,  quando  morávamos  eu,  o Louis,  o  Zaru,  Mocréia,  Licão,    Liquinho,  Lau  Galalau, Celso,  Gaguinho,  Thomaz, Hilton  Vassoura  e  Véio.  Um  reduto de  monlevadenses  e  novaerenses,  onde  a farra  estava  no  ovo,  no macarrão  e  na  cachaça.  Tinha  ali  perto  o  Bar  do  Sr.  Bizuca, onde  o  “pão  molhado”  conseguia,  às  vezes,  matar  nossa fome. Despistava  o  estômago.  E  o  Bonifácio sempre  segurava  as pontas,  e  fazia-nos  esquecer  da  tristeza  com  seu violão,  e  o “Negão”  ainda  não  conhecia  a  mágica  do  cavaquinho. Tinha também  a  “secretária”  Toninha,  e  as  cuecas  velhas  do  saudoso Lau, dependuradas  num  varal  que  ficava  sobre  o  fogão.  Era  para colocar  os  panos  de  pratos.  O  Louis  gozava  o  colega  da  Tieté, dizendo:  “o  barrinho  da  cueca  está  sujando  as  panelas,  ô Galalau”.  Tempo,  em  que  a  esperança  estava  em  nossas cabeças,  e  o  mestre  e  saudoso  Gonzaguinha  e  o  cearense Fagner  cantavam  nossos  hinos.

O  Louis  Bonifácio,  que  acompanhou  a  calma  do  seu  velho  pai, Seu Totó,  era  também  amigo  dos  campings  que  fazíamos  no Serrano.  Eu,  ele,  Clésio, Carlos  Guilherme, Marquinhos,  Gaguinho,  Casinho, Eduardo,  Julinho  Bitiu,  Bebeto e  os saudosos Salvinho  e  Carlinhos  Sr.  Pedro. Lá  íamos  nós andando  pela  estrada  do  Forninho,  até  a  chegada  ao  Serrano. E  o  “Negão”  era  quem preparava  os pratos.  Sempre  sorridente naqueles  dentes  que  viam  escova  ao  menos  cinco  vezes por  dia de tão brancos.

Lá se foi o Louis e fica a saudade! Lá  se  vai  um  amigo  que  tinha o  sonho  de  voltar  a  João Monlevade  e  de  aqui  criar  seus filhos.  Um homem  que falava  do  Brasil  ainda  com  esperança,  mesmo  que este país  tivesse  tirado  dele  os  sonhos.  De  família  humilde. O “Luis do Cavaco”, do samba, do grupo “Afilhados do Sereno que, junto a Rominho, Zé Ricardo, Zé Afonso e também os saudosos Zaru e Pereira, foi um dos melhores grupos do genuíno samba de raiz de nossa região.Com seu sorriso, fazia chorar o seu cavaquinho, e cantava como ninguém as canções de seu ídolo Roberto Ribeiro, entre eleas “Amar como te te amei ninguém jamais amará”… Para você,  meu  amigo,  Deus  lhe  dê  um  lugar  merecido!

*Do Livro “A Saga: Memórias de um Jornalista do Interior” – Parte XLII

Autoria: Jornalista Marcelo M. Melo!

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