Maestro Mozart Bicalho e sua Biografia!

Mozart Nascimento Cruz Bicalho, filho de Virgílio Cruz Bicalho e Rita de Cássia Dias Bicalho, nasceu em 16 de dezembro 1901, no então distrito de Bom Jesus do Amparo, à época pertencente ao município de Santa Bárbara. A família era bastante numerosa: além dele, havia mais dez irmãos: Maria Ligória, José, Antônio, Maria do Bom Sucesso, Francisco, Virgilio, Waldemira, Helena, Dolores e João Batista. Ali viveu sua infância e, precoce talento musical, começou a estudar música aos 8 anos de idade, integrando banda local. O violão, instrumento que o consagraria nacionalmente, só surgiu em sua vida por volta dos 15 anos.

 Em 1920, deixou Bom Jesus do Amparo para continuar seus estudos em Belo Horizonte, onde ministrava aulas de música no Edifício JK e em residências particulares. Em busca de horizontes mais amplos que comportassem seu talento, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1923, quando teve acesso às primeiras partituras musicais, escritas especialmente para violão. Ingressou no Serviço Militar, dedicando-se à musica, dando baixa em 1932, como Major Músico. Sua passagem pelo serviço militar foi marcante em sua formação, refletindo-se nos hinos e marchas por ele compostos, ao longo de sua carreira artística. É bom que se diga que, além do antigo Hino de Monlevade, escreveu cerca de 100 hinos de cidade, entre os quais o de Dom Joaquim e Bom Jesus do Amparo, sua terra natal.

Tendo freqüentado o Grupo Escolar Central na Monlevade dos anos 1950 cantava-se com as professoras, nas festas escolares, o que se conhecia como Hino de Monlevade, através do qual era homenageada esta “cidade-riqueza” que tinha, “na grandeza dos dons naturais, a alavanca soberba e segura da glória futura de Minas Gerais”. Cantando aquele hino, também aprendia-se que “Luxemburgo de braços abertos com passos bem certos, com grande simpatia, esta Companhia, com alma a vibrar”. Embalados pela bela melodia, cantava aquele hino “fitando as serras” e sentindo que “o orgulho nos infla (va) o peito e incita(va) o perfeito brio nacional.”   

O que referiu-se acima é o de resgatar a memória do autor das belas palavras e vibrante melodia do primeiro Hino da Cidade: Mozart Bicalho, poeta e musicista de renome nacional, natural desta região, que, tendo residido na cidade por tão pouco tempo, a ela se ligou, principalmente, pela autoria de seu mais antigo hino.

É dessa fase de sua vida a curta passagem por Monlevade, onde ingressou na Belgo-Mineira como auxiliar de escritório em 1948. Nessa época, compôs o famoso Hino e, sendo pároco de São José o saudoso Cônego Higino, Mozart Bicalho compôs também hinos religiosos, executados nas celebrações. Um de seus hinos, escrito em parceria com o Cônego Higino, continua sendo executado anualmente na Festa do padroeiro São José Operário. Tornou-se também valoroso colaborador do Maestro José Silva (ver matéria nesta página), fundador do Coro Pio X, aportando-lhe as partituras de que carecia o incipiente Coro. Também uma de suas irmãs, Mira Bicalho, encarregava-se de preparar as crianças para a Coroação de Nossa Senhora.

Foi no Rio de Janeiro que as portas se lhe abriram para a fama. Com efeito, sendo compositor criativo e violonista consumado, foi considerado por muitos críticos como um dos principais violonistas brasileiros. Tanto que, entre 1929 e 1940, lançou pela Odeon cerca de nove discos. É oportuno lembrar que as gravadoras, cronologicamente, apareceram antes do rádio: em seus primórdios, tanto o gramofone, precursor da vitrola, quanto os sistemas utilizados nas gravações eram baseados em processos mecânicos e, como tal, não necessitavam de energia elétrica para funcionar. Tais circunstâncias acabaram contribuindo para uma das alegrias confessadas de Mozart Bicalho: “O grande Canhoto, a quem sucedi na Odeon, foi o primeiro violonista a gravar no país e eu o primeiro a tocar em rádio. Enquanto Canhoto tornou-se pioneiro do disco com Abismo de Rosas, coube a mim inaugurar o rádio com Gotas de Lágrimas.”1 

Essa valsa “Gotas de Lágrimas”, imprescindível em qualquer serenata, tornou-se um grande sucesso na época vendendo cerca de três mil cópias, número bastante expressivo naquele tempo em que, por exemplo, uma cidade como Belo Horizonte não tinha mais que 200 gramofones. Incorporada ao repertório violonístico brasileiro como um de seus clássicos, Gotas de Lágrimas foi gravada, em 1963, pelo violonista Dilermando Reis, versão muito apreciada por estudiosos de música. Para o professor José Lucena – um dos introdutores da cadeira de violão na UFMG – Gotas de Lágrimas forma com Abismo de Rosas e Sons de Carrilhões2  “uma tríade exemplar de músicas populares que, durante anos, atraíram e sensibilizaram os ouvintes a ponto de tornar muitos deles cativos para sempre do instrumento. No meu caso, lembro-me bem ter sido ela uma das músicas que mais me marcaram na década de cinqüenta” – afirma ele.3 

Tinha, é claro, um grande carinho pela cidade de Santa Bárbara, que visitava com freqüência e onde se encontrava com amigos violonistas. Recorda sua sobrinha–neta, Marli Bicalho Duarte: “Quando ele tocava violão, ninguém podia dar um pio. Ele parava e pedia à pessoa para se retirar. Eu me lembro muito disso. Aqui, em Santa Bárbara ele tocava com José Caldeira, Miguelão, José Pires e meu pai, Edson Bicalho É de se estranhar que um violonista tão apaixonado não tenha sido casado nem deixado descendentes. Para o leitor desavisado que o tenha imaginado alguém que a ninguém amou, ele já deixou sua resposta: “Como é comum me perguntarem se ao compor aquela valsa estaria a minha inspiração voltada para a lembrança de uma mulher amada, aproveito, desde já, para responder-lhe com outra pergunta: Seria possível a um artista viver sem ter amado alguém? Comenta-se que sua grande paixão é viva, solteira, e reside na cidade de Virginópolis, no Vale do Rio Doce, conhecida por “Tia Teca”.

Após prestigiosa carreira musical, faleceu em Belo Horizonte em 08 de janeiro de 1986, aos 81 anos de idade. Seu corpo, velado no Palácio das Artes, jaz no Cemitério Parque da Colina. Foi uma pessoa muito religiosa, íntegra e de uma honestidade a toda prova, conforme testemunham seus contemporâneos.

A região preserva sua memória imortalizando-o como nome de rua em algumas cidades da região e com um monumento Bom Jesus do Amparo, sua terra natal. Santa Bárbara, por ocasião do Centenário de seu nascimento, dedicou-lhe significativa homenagem. Em Monlevade, nosso antigo Hino pereniza-lhe a memória.

Notas e Referências:

1 – Registro feito pelo Dicionário Cravo Alvim de Música Popular Brasileira, acessado via Internet.

2 – Abismos de Rosas, composta por Américo Jacomino, e Sons de Carrilhões, por João Pernambucano.

3- Depoimento inserido em “O Violão Brasileiro de Mozart Bicalho”, Edições Hematita, obra de Renato Sampaio, em trecho disponibilizado no site da Galeria de Arte Inimar

4 – Texto de Tião Crispim em “Atlas Estudantil”, publicado por ocasião dos 300 anos de Santa Bárbara

5 – Marli Bicalho Duarte, residente em Santa Bárbara, em depoimento ao autor desta coluna.

6 – Depoimento na obra de Renato Sampaio, acima citada.

7 – Faço tal registro com carinho e profundo sentimento de gratidão: menino pobre e vocacionado para o sacerdócio, parte significativa de minha formação foi custeada por tal entidade e recebi recursos materiais para meus estudos das próprias mãos de Dona Aleixina Silva.

*Pesquisa e Texto: Geraldo Eustáquio Ferreira – Professor Dadinho!

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