De Filho pra Pai – Milton Ourivio: exemplo de trabalho e prosperidade!

O saudoso Milton Ourivio em frente ao prédio que construiu na Avenida Getúlio Vargas, em Carneirinhos

Milton Ourivio. Quem é de Monlevade ou já reside na cidade há alguns anos já ouvir falar neste nome? Poderia apostar que a resposta seria por unanimidade. Pois bem, mas ele chegou a João Monlevade ao final do ano de 1939, rapaz, com 19 anos de idade e à procura de um trabalho. Mas antes fez um curso e se formou na área de Comércio em sua cidade natal, Santa Bárbara. De diploma nas mãos, seu pai Abel lhe ofereceu duas opções: ir para Sabará, onde poderia estudar mais, ou vir para João Monlevade trabalhar, onde tudo estava começando. Fez a segunda opção e em João Monlevade permaneceu até o final de sua vida, em junho de 2001.

  Assim começava a trajetória daquele jovem, que resolveu largar a saia da mãe e a proteção do pai para se lançar na vida, disposto a trabalhar. E assim tão logo chegou à nova terra, o seu primo Silvério Lima Géo, popular “Leléu”, deu-lhe um serviço na Casa Antônio Géo Ltda. Foi neste armazém de secos e molhados onde também tinha padaria e açougue que Milton começou como caixeiro, hoje vendedor. E por coincidência, o “Morro do Geo” abre espaço para falar de uma pessoa que viveu e amou esta cidade. Habilidoso, bom vendedor, simples de hábitos, foi morar na “República”, onde moravam então dos caixeiros do Armazém Géo.

  Rapidamente, de caixeiro, passou a supervisor da loja de tecidos e armarinhos e mais tarde, gerente da loja. Era dele a exposição e decoração das vitrines que dentro do armazém, num patamar mais elevado, 5 ou 6 degraus em relação a área de secos e molhados, que estava a loja, sempre bem arrumada, limpa e decorada. E ali se encontrava de tudo: tecidos, artigos de cama e mesa, calçados, armarinho e artigos domésticos que predominavam na loja. Lembro-me do cheiro gostoso, típico de armazém, que ali se alastrava. Sinto este cheiro, na imaginação e de fato, até hoje.

  Mas além de gerente de loja, para complementar seus ganhos, exercia, com autorização do seu primo, outras atividades. Era agente do Banco da Lavoura (que não tinha então a agência na Rua da Estação, da qual D. Maria Teles mais tarde seria gerente), vendia rádios da RCA Victor e relógios (na época tudo importado) para os quais fazia, pessoalmente, as caixas de madeira.

Amor e Sucesso nos Negócios

  Quatro anos depois de chegar a Monlevade, ou seja, numa noite clara de julho de 1943, saindo do Cinema na saudosa Praça, perguntou a uma jovem, que também saia da sessão, se poderia acompanhá-la até em casa. Ela, que estava junto com a irmã mais nova, disse que sim. E assim nasceu o namoro com a Zizi, que virou noivado e, em 31 de julho de 1944, transformou-se em casamento. E logo vieram os filhos Mário Lúcio, em 1945; Geraldo Lucas, em 1947 e Milton Sérgio, em 1949. Foi aí que ele viu a necessidade de aumentar as suas rendas, pois a família crescera.

  Em 1950 comprou a banca de verduras do Manoel Português, equivalente ao que chamamos hoje de sacolão, na Praça do Mercado. Nasceu com o nome de Casa São Geraldo. Logo depois passou a ser um armazém que vendia de “fio a pavio”, linguagem usada na época. De peças de bicicleta, chumbo e pólvora de espingarda, foguetes, secos e molhados, verduras e legumes a cervejas e refrigerantes e que, dez anos mais tarde, transformou-se na primeira mercearia de Monlevade, a Mercearia Ourivio. Tirou o balcão, colocou prateleiras onde os fregueses se serviam à vontade e pagavam no caixa. Tinha uma visão empresarial impressionante, sempre enxergando à frente do seu tempo. Tanto é que, nessa mesma época trouxe para Monlevade o sorvete Kibon e os pescados Pescal. Antes disso, no ano de 1958 – quando havia comprado um pedaço de terra em Carneirinhos (que ainda era um buraco), um amigo chegou a lhe questionar o motivo pelo qual havia adquirido um terreno na roça. Pois Milton Ourivio sorriu e disse: “É para lá que Monlevade vai crescer”! E acertou em cheio.

  Em 1962 abriu filial da Mercearia Ourivio em Carneirinhos, o depósito de bebidas e a Transportadora Carneirinhos, com Filial na Rua Guaicurus, em Belo Horizonte. Era então o revendedor da Brahma na região e a sua praça começava em Ravena e ia até Coronel Fabriciano. Mais tarde foi

Em 1962 abriu filial da Mercearia Ourivio em Carneirinhos, o depósito de bebidas e a Transportadora Carneirinhos, com Filial na Rua Guaicurus, em Belo Horizonte. Era então o revendedor da Brahma na região e a sua praça começava em Ravena e ia até Coronel Fabriciano. Mais tarde foi revendedor da Antarctica e da Skol. Vendia ainda bebidas típicas da época, como Martini, Cinzano, San Raphael, Ron Montila e engarrafava cachaça de nome Bossa Nova, cujo registro de marca está em curso em nome de um dos membros da família. Com seu comércio na famosa Guaicurus – reduto boêmio, dizia ele que “conheci todas as zonas boêmias em BH. Afinal, realizava as cobranças à noite. É sério”!

Visão de um Empreendedor

  Agora o talento e o empreendedorismo dessa grande figura, que é exemplo. Com a chegada da Cemig a Monlevade e a retirada da energia fornecida gratuitamente pela Belgo-Mineira, a venda de fogões a gás explodiu e Milton Ourivio tornou-se então concessionário da Ultragaz. E mais: com o crescimento na área de construção civil, transformou-se no revendedor do cimento Cauê e dedicou-se a vender materiais de construção, sem deixar de vender as bebidas. Paralelamente, possuiu no Bairro Loanda uma fábrica de pré-moldados, seus últimos negócios no comércio.

  Quando ele fechou seu último comércio, o depósito de materiais de construção, todos nós pensamos: agora ele para de trabalhar e vai se aposentar. Que nada! Danou a construir. Aflorou nele a outra vocação: de construtor. Só comprava a planta, que raramente seguia, e queria a parte de forma e armação do engenheiro. O resto ele mesmo fazia. É exclusivamente dele a concepção de todos os imóveis que possuiu, desde a Vila de casas, os prédios, a Galeria, a própria casa em Carneirinhos e a de Nova Almeida. Morreu construindo ou reformando alguma coisa.

  Pai exemplar e sempre mestre no diálogo, jamais incentivou a nenhum dos filhos ou filhas seguir a profissão de comerciante. Achava que era muito sacrifício pessoal. Incentivou todos a estudarem e proporcionou a nós a oportunidade de um cursar uma Faculdade. Dizia que o melhor investimento nos filhos é a educação.

  E no intervalo desta história, vieram quatro filhas: Maria Eunice, Tereza Cristina, Emília Luzia e Luiza Regina, das quais fui proibido dizer os anos em que nasceram (rs). E nós proporcionamos aos nossos pais dezesseis netos e estes, uma binesta e um bisneto. Mas virão se Deus quiser muitos outros ainda.

Os Amigos são para sempre

  E como fez amigos ao longo de sua passagem por João Monlevade, entre eles Daniel, Cives Santa Rosa, Moacyr Dias Duarte, Aldo Nastrini, Messias, Quinquin, Nonô Batista, Geraldo Brum, Bil, todos da área de hotelaria e bares – lugares que ele adorava freqüentar. Na minha infância eu era companhia no Bar do Daniel e no Caça e Pesca. Na adolescência e juventude no Bar do Alvorada. Na vida adulta, no Pé de Porco. Creio que eu era uma espécie de Alvará.

  Já em sua passagem pelo comércio, que começou ali na saudosa Praça do Mercado e encerrou em Carneirinhos, seus amigos eram Zé Gordo, Nicácio, Trindade, Nicolau, Didico relojoeiro, Didico do gás, Leléu, Ulete Mota, Jaime, Zezinho e Oswaldo, José Braz, José da farmácia, Espechit, Oséias Carvalho, Onofre Machado, Onofre Ambrósio, Maria Teles, Diló, Nonô Batista e tantos outros a quem peço desculpas por não lembrar. Mas ele, Milton Ourivio, não se esquecia dos amigos. Lembro-me do meu pai sempre bem humorado, de bem com a vida. Só o via triste, às vezes, com a morte dos amigos. Com a proximidade da própria morte não se importava. Dizia que estava vivendo de pinga, isto é, de graça, pois tinha trabalhado muito, mas vivido também muito.

  Poucos sabem que durante toda sua vida contribuiu com a Sociedade São Vicente de Paulo, com o Lions Clube e doou casas para seus principais empregados. Empregou ainda seus ex-colegas do Geo para completar tempo de aposentadoria. Foi benemérito, sem ninguém saber, mas, como se deve ser, no anonimato. O último desejo dele, revelado a mim, com um rosto alegre e satisfeito de quem tinha cumprido a sua missão: queria ser enterrado em Monlevade e não queria nem choro, nem vela, e sim uma fita amarela gravada o nome dela. Foi cumprido.

  É assim que me lembro de Milton Ourivio, antes de tudo, um trabalhador.

Na foto abaixo, Seu Milton Ourivio e a esposa Zizi, ao lado dos sete filhos, todos nascidos em João Monlevade. Tudo começou em 1943, após uma sessão de cinema, no saudoso Cine Monlevade. O início de uma vida que se tornou exemplo e referência como esposo e pai

Belo Horizonte, 20 de maio de 2012.

*Texto escrito pelo filho de Seu MIlton  Ourivio e Dona Zizi, Milton Sérgio Ourivio!

Matéria publicada na edição de nº 161 do jornal “Morro do Geo”, de maio/2012.

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