Dr. Lúcio Flávio de Souza Mesquita: um administrador Ágil e Moderno!

Na foto, de 1975, durante inauguração da Escola Luiz Prisco de Braga, o prefeito Lúcio Flávio de Souza Mesquita (ao centro), em companhia do então governador de Minas Gerais, Aureliano Chaves, do presidente da Câmara Municipal de João Monlevade, Sebastião Gomes de Melo, e do deputado José Santana de Vasconcelos, entre outras autoridades

Novembro de 1972. Em João Monlevade, o resultado do pleito municipal revelou uma guinada na política local. Depois de dois mandatários do MDB, o povo conduziu ao governo municipal um candidato da ARENA. Fora uma disputa acirrada, mas não representara uma virada ideológica ou social. Afinal, vínhamos de dois governos bem sucedidos: o de Germim Loureiro (1967-1970) que, atento às demandas básicas de uma cidade carente de toda infraestrutura social como água, esgoto, calçamento, saúde e ensino fundamental, dera resposta imediata a essas necessidades, apesar da inexistência de uma estrutura administrativa de gestão municipal, o que era aceitável e compreensível para aqueles primeiros tempos; e o de Antônio Gonçalves (1971-1972), ativista comunitário e professor que, apesar do pequeno mandato de dois anos, além de dotar a Prefeitura de uma estrutura organizacional baseada em departamentos, assentou sua atuação em duas metas bem traçadas e cumpridas com objetividade: educação e saúde.

  Com a cidade bem conduzida e em franco crescimento, a eleição de Dr. Lúcio Flávio de Souza Mesquita, médico do Serviço de Saúde da então Belgo-Mineira, mais que um revezamento de facções políticas no poder (algo que o sistema bipartidário destruiu e camuflou), representou a vontade do povo de ser governado por quem, exatamente por ver mais longe, pudesse projetar o nome da cidade além de seus limites territoriais e consolidasse sua vocação de ser polo de uma microrregião. E foi exatamente a presença dessa expectativa que marcou com esperança e alegria a posse do novo prefeito no início do ano seguinte.

  Já em seus primeiros pronunciamentos, revelou a que viera: “Prometo ser sincero, como convém à Cidade; honesto, como convém ao Estado; e severo, como convém à Nação.”[i] Logo após a divulgação dos resultados do pleito, numa mensagem plena de humanidade, estendera a mão a amigos e adversários: “Não existe vencedor, não existe derrotado. Existe a vitória de uma cidade, com seu povo ordeiro e pacato. (…) Um apelo de coração aos amigos e adversários: nada de ódio ou rancores. Nós passamos e a cidade fica para sempre”.[ii]

  Era assim o Dr. Lúcio. Nascido em Belo Horizonte em 18 de junho de 1933, vinha de uma família solidamente edificada no trabalho e na disciplina. Pouco conviveu com sua mãe, Maria Auxiliadora Magalhães de Souza Mesquita, que perdeu quando tina oito anos. Viveu quase que só em companhia do pai, Sebastião de Souza Mesquita, médico militar, que cuidou de sua educação. Integrante da 50ª turma de medicina da UFMG (Formandos de 1965), foi lembrado, com seus colegas de turma, em artigo referente ao Centenário da Escola de Medicina, publicado em março de 2011.[iii]  Tivera excelente formação acadêmica, temperada com um engajamento político na juventude, quando atuara como líder universitário no Diretório Acadêmico de sua faculdade.

  Vindo para João Monlevade e instalando-se como médico, soube conquistar o povo com sua bondade e inteligência, construindo sólidas amizades, que muito lhe valeram na campanha para o cargo majoritário a que se candidataria. Foi casado com Vânia Pinto Souza Mesquita, com quem teve três filhos: Auxiliadora, Fátima e Lúcio Flávio de Souza Mesquita Filho.

  Seu período governamental (1973-1976) em que teve como vice-prefeito o Sr. Claudionor Batista de Oliveira, foi um período extremamente importante para a cidade. Sua equipe de governo, bastante competente (praticamente não mudou em seus quatro anos de mandato), teve a atuação marcada por grande sucesso, pois esteve comprometida com um plano de governo sensato e coerente. Ajudou-o ainda a parceria com o Poder Legislativo, presidido em seu mandato por dois companheiros de legenda e amigos fiéis, que trabalharam em sintonia com ele e com as justas aspirações do povo: Juventino Alves Caldeira e Sebastião Gomes de Melo. Ressalte-se, ainda, a discreta participação de sua esposa, Vânia Mesquita que, além de coordenar atividades sociais como a “Feira da Paz”, publicava no Jornal Atualidades a coluna “Feira Livre”, em que discorria sobre assuntos de interesse feminino, assuntos culturais e clipes de publicações como o Estado de Minas, O Globo, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Revista Realidade, Desfile e Lar Católico, entre outras.

  Sob a égide de uma “abelhinha” trabalhadeira que encimava o dístico “Monlevade: Gente, Amor e Trabalho”, – novidade em marketing e publicidade – o povo de João Monlevade presenciou, no plano interno, a uma série de realizações em todos os campos da administração pública: mais oportunidade de educação, saúde, lazer, assistência social, obras de infraestrutura, parques e jardins e limpeza urbana, entre outros. Era a transformação dos impostos em serviços de primeira necessidade e em obras indispensáveis como a Sede de Prefeitura (originariamente concebida para sede do Judiciário), o prédio da Escola Estadual Luiz Prisco de Braga, os primeiros blocos da Escola Israel Pinheiro, a ampliação de prédios escolares com a construção de salas anexas, a sede da Lemas (Legião Municipal de Assistência Social) e a canalização de córregos.

  No entanto, uma das grandes marcas de seu período foi a projeção que a cidade começou a ter na região, com a conquista de divisas que foram fruto do prestígio político de Dr. Lúcio e que transformaram a cidade: a incorporação da Cotejom pela então Telemig com a construção de moderna sede administrativa e de serviços, a vinda da Caixa Econômica Federal, as novas sedes dos Correios e Telégrafos e da Delegacia de Polícia, a agilização do processo de autorização e reconhecimento de cursos de ensino médio e superior, o aceleramento das obras do Viaduto de Bela Vista e do asfaltamento do trecho Rio Casca-João Monlevade, o que desafogou o trânsito no centro da cidade, livrando-o do transporte intermunicipal e, não se esqueça, a maturidade político-administrativa do município representada pela conquista do poder Judiciário, que tornou João Monlevade sede de Comarca. Em fevereiro de 1975, a Revista Dirigente Municipal classifica Monlevade como a 112ª cidade do país então como 3952 municípios, mais pontuado que Petrópolis (115ª posição) e Ipatinga (159ª posição).

  Neste cenário de pleno desenvolvimento, João Monlevade foi alvo da visita de personalidades políticas e administrativas do Estado que aqui estiveram ora para inaugurar obras ora para pronunciar palestras (Ciclo de Estudos Superiores), que tinham como objetivo a formação dos servidores e a educação do povo.

  Não obstante a extensa folha de serviços prestados à municipalidade, Dr. Lúcio não conseguiu fazer seu sucessor, o que foi motivo de tamanha decepção, a ponto de fazê-lo transferir residência para Belo Horizonte em 1977, onde continuou atuando como médico. Convencido por amigos e correligionários, retornou para a cidade após dez anos de ausência, candidatando-se mais duas vezes a Prefeito: em 1988 (pelo PFL) e 1993 (pelo PTB), não logrando a aprovação popular.

Retorno a João Monlevade

  Residindo novamente em João Monlevade, reassumiu sua profissão de médico, continuando a tratar dos doentes com o cuidado e carinho de sempre. Tentou novamente assumir a Prefeitura do município e candidatou-se nas eleições municipais de 1988 e em 1992, mas não conseguiu êxito.

  No plano familiar, outra mudança marcou sua história: divorciou-se de sua esposa e uniu-se a Beatriz Magalhães que o acompanhou em seus últimos anos de vida. O último cargo que exerceu como servidor público na cidade foi o de Auditor de Saúde, no governo Carlos Moreira. Foi nessa situação que a morte o colheu em 13 de janeiro de 2004. Além de alguns títulos e destaques que colheu em vida, sua memória permanece lembrada entre nós pelas obras que deixou na cidade, pelos grandes e verdadeiros amigos que granjeou, e agora, mais recentemente, pela denominação de seu nome a um dos anexos administrativos do Hospital Margarida.

  Para quem acha que foi pouco, fica a certeza de que Deus, em sua bondade infinita, tenha satisfeito seus desejos expressos na mensagem ao povo, publicada em 1972, logo após o pleito que o consagrou prefeito da cidade: “Deixemos que Deus, em sua sapiência infinita, escreva suas linhas para que, ao deixarmos esta vida, tenhamos o descanso na paz que constrói, na compreensão que ajuda e na tolerância que ensina.”[iv]


[i] Extraído de seu discurso de posse

[ii] Mensagem ao povo publicada no Jornal Atualidades em novembro de 1972

[iii] Cf REV MED Minas Gerais 2011; 21(1):123-127

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2 comentários “Dr. Lúcio Flávio de Souza Mesquita: um administrador Ágil e Moderno!”

  • disse:

    Era menino que andava descalço pelas pedras da rua Tabajaras, que jogava pelada no campinho do final rua, lado oposto da Pensão Grande, quando num iniciozinho de uma noite de 1971 cheguei em casa para o banho e deparei-me com tudo muito limpo, cheirando a plástico por causas das cortinas e passadeiras novas e tudo para receber naquela noite o candidato Dr Lúcio. Ele foi até lá para discursar em busca de votos e apoiadores. Mais tarde fui saber que o meu tio Tim Mirim (Nilton de Souza) era cabo eleitoral dele. Tudo isto em minha memória, como se fosse ontem.

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