Fundação da Rádio Cultura de João Monlevade!

Trabalho elaborado pelo jornalista Marcelo Manuel de Melo. Final de Curso de Jornalismo TCC Dezembro/2005 – IES/Funcec – João Monlevade – MG

A sede da Rádio Cultura funcionou neste prédio, à esquerda, na Praça Ayres Quaresma (Praça do Cinema), no 2º andar, conforme mostra a foto acima.

A Rádio Cultura de João Monlevade foi fundada pela Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira em março de 1961, quando entrou no ar em caráter experimental, mas a data oficial de sua inauguração se deu em 1º de maio daquele ano.

A Rádio Acrízio Engrácio: 1959

Mas, vamos voltar ao tempo, antes mesmo de a Rádio Cultura entrar no ar. Afinal, havia em João Monlevade um homem à frente de seu tempo. Um negro, baixo,de uma inteligência diferenciada e criativo. Além de espirituoso, chamado Acrízio Engrácio. E foi com ele que surgiu a 1ª emissora de rádio em João Monlevade.

Dois anos antes de a Rádio Cultura entrar em operação, precisamente em 1959, um operário da Usina da Belgo-Mineira, Acrízio Engrácio, empreendedor por natureza e muito simples, mas um homem à frente do seu tempo, instalou na sede do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, bairro Cidade Alta, uma pequena emissora, com transmissor precário, apelidada de Rádio “Lobisomem”.

De acordo com a “Coluna da Cora”, publicada na edição de nº 48 do jornal Morro do Geo, de 10 de janeiro de 2003, a emissora foi ao ar por alguns meses, com Show de calouros e uma programação variada, e obteve apoio do engenheiro Joseph Hein, diretor da Usina da Belgo-Mineira em Monlevade na época, que teria sido o responsável pela liberação do transmissor. Um outro serviço de rádio fora montado na Casa Paroquial, onde funcionava uma outra emissora e cujo diretor era o Cônego Higino de Freitas, segundo informou o professor e historiador Geraldo Eustáquio Ferreira, “Dadinho”. Pode-se afirmar então que Acrízio Engrácio e o Padre Higino de Freitas teriam sido os pioneiros nessa empreitada.

Na fotografia abaixo, Acrízio Engrácio, o pioneiro, aqui ao lado de Nilza Roberto e Catarina, durante uma programa de Calouros na Rádio Cultura.

Ainda durante a “Rádio Lobisomem”, era comum o famoso Show de Calouros, como mostra a fotografia.

1º de maio de 1961: Nasce oficialmente a Rádio Cultura

Diante da importância do rádio e da sua influência social e cultural entre os brasileiros, pretendemos através desta pesquisa resgatar a história do rádio em
João Monlevade, que aqui se instalou no início dos anos 1960. Com uma potência inicial de 250 watts e atingindo um raio de 100 quilômetros, a Rádio Cultura de João Monlevade – ZYV-72 – entrou em funcionamento em caráter experimental em março de 1961 e sua data de fundação, segundo matéria publicada no jornal “O Pioneiro”, que circulou em Monlevade entre os anos 1950/60, foi em 14 de abril daquele mesmo ano, com um grande show musical na praça de Esportes do Grêmio Esportivo Monlevadense, com os cantores Nelson Gonçalves, Clara Nunes e Elza Soares. Mas, a data oficial de inauguração da emissora consta de 1º de maio de 1961, e o primeiro locutor a entrar no ar foi Alim Machado.

A inauguração da Rádio Cultura se deu no Grêmio Esportivo e contou com uma grande multidão, com shows de vários artistas famosos, entre eles dos cantores Nelson Gonçalves e Elza Soares.

Através de pesquisa elaborada pela historiadora Isabella Carvalho de Menezes, que trabalhou no Projeto “Memória Belgo”, a Rádio Cultura foi idealizada pelo advogado e jornalista Cid Rebello Horta, chefe do Serviço de Divulgação e Imprensa da Belgo-Mineira,  ainda na da década de 1950. De acordo com dados colhidos na pesquisa, Cid havia sido diretor do órgão oficial do governo do Estado, “Minas Gerais”, e trabalhava nos Diários Associados. Com vasta experiência na área, foi convidado pela Belgo-Mineira para implantar o Serviço de Divulgação e Imprensa da empresa. Junto a ele trabalhava o publicitário Rubem Fischer Caldas, quando surgiu a idéia de se fundar uma emissora de rádio em João Monlevade. Conforme cita Rubem Caldas durante entrevista que concedeu à historiadora, “eu havia feito curso de locutor na Rádio Itatiaia com Anatólio Lima e resolvi aceitar o desafio proposto pelo Cid Rebello. Inicialmente, fomos desenvolvendo os processos, os programas, junto ao grande radialista Altino Pimenta. Durante o nosso trabalho, revolucionamos Monlevade culturalmente, com a vinda de grandes espetáculos”. Rubem Caldas veio a ser o primeiro diretor da Rádio Cultura, onde atuou até 1965.

A Rádio Cultura foi idealizada pelo advogado e jornalista Cid Rebello Horta (foto), chefe do Serviço de Divulgação e Imprensa da Belgo-Mineira.

O primeiro diretor artístico da emissora foi o maestro e pianista Altino Pimenta, natural do Pará, mas que trabalhou no Rio de Janeiro e na TV Itacolomi, em Belo Horizonte. Começava então a história da mídia falada no município e que foi implantada pela Cia Siderúrgica Belgo-Mineira.

Conforme matéria publicada no “O Pioneiro”, em março de 1961, antes mesmo de entrar no ar oficialmente, a instalação da Rádio Cultura entusiasmou e movimentou toda a população monlevadense. “Todos querem colaborar, de uma maneira ou de outra, para o êxito da iniciativa. Valores até então desconhecidos têm afluído em grande número, possibilitando a criação de excelente ‘cast’, formado na própria cidade. Já existem, em ensaios constantes, um conjunto melódico e um rítmico, tudo levando a crer que, dentro em breve, a soma dos recursos materiais e humanos da nova emissora a colocará entre as melhores do Estado”, citou a nota publicada no jornal.

É importante ressaltar o papel social da primeira emissora de rádio em João Monlevade com relação à influência até mesmo nas questões políticas da população, que deixava um pouco o cotidiano provinciano para entrar no mundo da comunicação através das ondas. Com sua política assistencialista, a Belgo teve interesse em implantar na Vila um meio de comunicação de massas que envolvesse toda a comunidade na qual ela atuava. Surgiu então uma rádio local e voltada para atender exclusivamente a cidade..

Há que se ressalvar, no entanto, que não haveria uma posição política da rádio nas questões ligadas ao município. No ano de sua inauguração, em 1961, já se iniciava timidamente um movimento em prol da emancipação político-administrativa do distrito de João Monlevade, que pertencia ao município de Rio Piracicaba. E havia uma corrente contrária à emancipação. Justamente por questões como essa que a emissora não priorizava pelo radiojornalismo combativo, mas sim de forma mais superficial e técnica, sem opiniões, abrangendo mais as questões sociais e esportivas da comunidade. Não era interesse da Belgo-Mineira criar um clima de hostilidade entre as correntes políticas procedentes da sede e do distrito.

Os funcionários, em sua maioria, eram próprios operários da Usina que, apesar da falta de experiência, conseguiam dominar os microfones e, em pouco tempo, tornaram-se mestres na arte de fazer rádio. Alguns acabaram assumindo de vez a profissão.

Alim Machado, o locutor que colocou a Rádio Cultura no ar. Ao lado o companheiro Geraldo Zenóbio, “Pindoba”, que tinha programa de auditório na emissora. Funcionários da Belgo-Mineira direto para o rádio.

A emissora de Rádio veio para mudar a vida cultural e social da cidade

Poucos tinham acesso aos aparelhos de TV em suas casas e a grande maioria das pessoas ouvia as emissoras do Rio de Janeiro, principalmente a Tupi, Mayrinck Veiga e a Rádio Nacional. Não havia até então uma influência midiática local, de massa e, como exemplo, imperava nas transmissões radiofônicas na cidade o futebol carioca. Com a chegada da Rádio Cultura, esse quadro mudou radicalmente. Em pouco espaço de tempo, criou-se o gosto pelas transmissões esportivas dos clubes locais e até mesmo de Belo Horizonte. A emissora deu início ao seu programa jornalístico que ia ao ar diariamente, com notícias locais e regionais, mexendo com o ego dos monlevadenses e enchendo-os de orgulho. Houve uma transformação social muito grande, conforme relatou a funcionária pública aposentada Neide Roberto, uma das primeiras cantoras a se apresentar no auditório da Rádio Cultura. Segundo ela, a rádio fez com que os monlevadenses se sentissem importantes.

A grande cantora Neide Roberto também chegou a se apresentar nos palcos da Rádio Cultura

Com menos de um ano em operação, a direção da Rádio Cultura montou uma equipe esportiva de grande qualidade. Afinal, desde os anos 1950, a Belgo-Mineira daria ao futebol monlevadense grande destaque e buscava jogadores de alto nível em várias cidades de Minas. Surgiram equipes de nível profissional em Monlevade e com isso era interessante destacar as transmissões esportivas na emissora; uma forma de arrebanhar multidões. Uma matéria publicada no jornal “O Pioneiro”, de julho de 1962, noticia um fato histórico que teria sido a transmissão do jogo entre Atlético Mineiro e Botafogo, um mês depois de a Seleção Brasileira sagrar-se bi-campeã mundial de futebol no Chile. E, naquela época, a equipe da estrela solitária era o celeiro de craques que havia participado da Copa do Mundo, entre eles Garrincha, Nilton Santos e Djalma Santos.

Os repórteres Maurício Reis e Marcos Rabelo, durante transmissão esportiva pela Rádio Cultura, na década de 1960, durante partida no Estádio do Jacuí.

Programa de Calouros

A Belgo-Mineira não apenas fundara a primeira emissora de rádio da região do Médio Piracicaba, mas também queria qualidade. Desse modo, sua direção criou vários programas de auditório, contratou artistas, entre eles o popular Coronel Gavião, cujo programa se chamava Rancho da Seara, do qual participavam artistas de todo estado para popularizar a música regional. •

Era levado ao ar três vezes por semana, sempre de 19 às 20 horas, época em que os aparelhos de televisão eram raros em Monlevade e, dessa forma, os programas radiofônicos tinham grande audiência.

Fotos que marcaram o Show de Calouros no Programa do Coronel Gavião.

Nos bons tempos de Rádio Cultura, dois nomes também fizeram  história na emissora; Humberto “da Telemig” (centro) operador de Mesa e técnico, Marcílio Profeta (à esquerda) e Paulo Lopes (à direita), locutor, que depois faz sucesso em emissoras de São Paulo, já tendo trabalhado também na TV Bandeirantes. Aqui, num momento de descontração nos estúdios da emissora, na praça do Cinema.

Assim nascia a Rádio Cultura que, por 15 anos, revolucionou a comunicação de massa em João Monlevade; também com seus programas de auditório e trazendo artistas que fizeram histórias nas grandes emissoras de rádio do Rio e São Paulo, como Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro, Elizete Cardoso, Clara Nunes, Cauby Peixoto, Radamés Gnattali, Procópio Ferreira e Roberto Carlos. Importante frisar que a Rádio Cultura, durante os 15 anos em que pertenceu à Belgo-Mineira, de 1961 a 1976, teve grande influência na cultura da população e conseguiu formar uma comunidade mais politizada e participativa.

Abaixo, o grande teatrólogo Procópio Ferreira (2º da esquerda para a direita), durante sua apresentação no palco da Rádio Cultura, na década de 1960. Aqui, junto a amigos.

Grandes shows marcaram os tempos de ouro da emissora enquanto esteve na sede na Praça Ayres Quaresma.

Em 1976, a emissora foi negociada com o Sistema Globo de Rádio, e passou a ser denominada Rádio Tiradentes/Globo, mesmo nome da emissora em Belo Horizonte.

A Belgo já não tinha mais interesse em manter uma emissora na cidade, mesmo porque ela já vinha operando no vermelho e conseqüentemente a empresa já tinha iniciado sua nova política de atuação na cidade, minimizando a sua prática assistencialista. O processo visando a terceirização de serviços viria sucumbir alguns anos depois. Dali a sede da Rádio Cultura mudou-se para o Bairro Satélite. Em março de 1993, no entanto, o Sistema Globo de Rádio vendeu a emissora para o então deputado Mauri Torres e o empresário José Oscar de Morais, de João Monlevade, mas o nome Cultura permaneceu até o ano passado, ou seja, em 2019, quando foi vendida para um empresário, e passou a se dominar Rádio Líder/FM.

Nomes que fizeram a História da Rádio Cultura:

Acrízio Engrácio: Um dos primeiros operários da Usina da Belgo-Mineira em Monlevade a se interessar pela instalação de uma emissora de rádio em Monlevade. No final dos anos 1950, chegou a montar um pequeno transmissor e um serviço de auto-falantes na sede do Sindicato dos Trabalhadores metalúrgicos, sendo a emissora apelidada de Rádio “Lobisomen”, pois somente entrava no ar no período noturno.

Cid Rebello Horta: Advogado e principal idealizador da Rádio Cultura de João Monlevade. Fundador da emissora.

Altino Pimenta: Músico e primeiro diretor artístico da Rádio Cultura.

Luciano Lima: Sucessor de Altino Pimenta, foi o segundo diretor artístico da emissora.

Rubens Caldas: Diretor administrativo da Rádio Cultura.

Edimir Néri: Responsável pela montagem do Torres de Transmissão da emissora.

Carlos Hamilton: Sucessor de Rubens Caldas, foi diretor administrativo.

Primeiros locutores, repórteres e operadores de áudio:

Alim Machado

Neyde Martins

Mary Marques

José Alencar

Geraldo Marques (Sabará)

Maurício Reis

Paulo Lopes

Guido Soares

Juventino Formiga

Geraldo Arantes

Paulo César

Marcílio Rabelo

Vicente de Paula

Gracinha Paiva

Márcio Passos

José Barcelos

Primeiros animadores com Programas de Auditório:

Antônio Augusto (Big-Show 72)

Coronel Gavião (No Rancho do Seara)

Geraldo Orozimbo (Balançando a Roseira)

Zezinho Passos (Show de Calouros)

Paulo Cardoso (Madrigal)

E grandes nomes passaram pela emissora, já na era contemporânea, considerados ícones, como o saudoso Sr. Ademar Soares D´Oliveira, Elmar Venícius de Oliveira, Vicente de Paula Neves, Geraldo Cardoso, Jair Lesse, Cláudia Gandra, e outros que continuam até hoje, como Carlos Moreira e Rony Alcântara.

A História Continua!

Mas a história da Rádio Cultura não para por aqui. Continuaremos com a II Parte, agora com “Os Casos” da Rádio Cultura”, que foram muitos e relatados por Alim Machado, Geraldo Marques, Maurício Reis e Vicente de Paula Neves, que trabalharam durante anos na emissora e têm causos muito interessante, e todos hilários e verídicos. Aguardem!

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