“Zé Teco”: Uma História parecida com Novela!

Um grande atleticano, “Zé Teco” colecionava livros e revistas que falavam do seu querido Clube Atlético Mineiro, e a parede de seu quarto era repleta de pôsteres do Galo

Falar de José Domingues em João Monlevade poucos vão saber de quem se trata. Mas ao citar “Zé Teco”, aí é quase uma unanimidade. Afinal, quem não conhece pessoalmente ou nunca ouviu falar neste nome, ou melhor, nesta alcunha, neste grotão das Geraes? Aliás, o apelido chegou quando ele ainda era criança. Seu pai se chamava José Manuel Domingues, mas era conhecido como “Seu Teteco”. Daí tirou-se um “te” e o menino José Domingues ficou conhecido como “Zé Teco”. E para se ter uma ideia de sua popularidade, tão logo postei uma chamada em um Grupo que administro no Facebook – “Morro do Geo: João Monlevade e sua História” – com sua foto e fazendo uma chamada para esta matéria, o número de curtidas e comentários foi algo muito acima da média, demonstrando exatamente o seu carisma perante os monlevadenses, presentes e ausentes.

  Sua história de vida teve início num lugar chamado “Cantagalo”, próximo ao distrito de Teixeira, município de São Domingos do Prata, onde nasceu em 16 de março de 1924, do ventre da senhora Efigênia Soares. O pai separou-se da mãe, deixando-a com dois filhos pequenos. Zé teco tinha 7 anos. Daí a vida começou dura desde sua infância, e trabalhava na roça ajudando a mãe, junto ao irmão. Depois moraram em Teixeira e de lá, no ano de 1939, D. Efigênia veio com os filhos para João Monlevade. Foram morar no Jacuí e, para se sustentarem, vendiam quitandas e doces para um senhor conhecido como Pedro Araújo, próspero comerciante na época. Também era entregador de remédios, atendendo sempre os trabalhadores que construíam a Barragem do Jacuí. E ganhando uns mil reis ali e outro aqui, ajudava a sua mãe no sustento da casa.

O dia que conheceu o presidente Getúlio Vargas

  E da venda de quitandas pelas ruas do antigo Centro Industrial, percorrendo as portarias da Usina e os hotéis, um fato extraordinário, desses que só acontece mesmo por um milagre, ocorreu com aquele menino. O próprio Zé Teco narrou a história, sempre sorrindo: “Foi em 1940, quando o presidente Getúlio Vargas veio inaugurar o Alto Forno-1. Ele estava quase em frente ao Hotel do Cassino, e havia muita gente para vê-lo. Quando, de repente, ele me viu com aquele cesto vendendo as quitandas, aproximou-se, e perguntou quanto eu tinha ali ainda para vender. Disse que uns 3 mil reis. Getúlio Vargas tirou a carteira do bolso e me deu uma nota de 20 e não quis o troco. Mandou apenas que eu distribuísse os doces para as crianças que estavam no meio da multidão. Fiquei doido com tanto dinheiro e foi com esta nota que comprei o meu primeiro par de sapatos. Mas deu ainda para comprar roupas e ajudou na nossa casa durante uns 5 meses. Era muito dinheiro mesmo”.

  Um ano depois era fichado na Belgo-Mineira, precisamente em 21 de abril de 1941. Mas, segundo conta, não ficava mais que 2 horas dentro da Usina diariamente, pois tinha outros afazeres fora dela. “Trabalhava no Cinema com João Horta e lá fazia de tudo. E ficava também fazendo serviço de rua. Era mais divertido. Mas depois peguei pesado na Usina e me acidentei feio. Era solteiro ainda. Cheguei a ficar afastado por mais de um ano e minha mãe cuidando de mim. Nessa época havíamos mudado para o Bairro Santa Cruz”, disse Zé Teco, quando fez alguns relatos surpreendentes e que lhe causaram muito sofrimento, mas pediu para ficar ali entre nós, in off.

Casamento e os filhos

  Daquele menino miúdo de Cantagalo, veio o rapaz forte, altivo, bonito, conquistador e de bela voz. Mas sempre ao lado da mãe, Dona Efigênia, de quem nunca se separou, mesmo depois de casado. E o casamento se deu com uma linda moça, da região de Nova Era. De nome Rosa Antônia e passou a assinar Domingues. Zé Teco relatou que, durante a vida de solteiro no Santa Cruz, teve várias namoradinhas, mas acabou indo buscar longe. “Naquela época a gente namorava ao som da orquestra de sapos, o Sapo Martelo, tudo sob a luz de candeia. Lua cheia. Era muito bom”, dizia ele com ar de romantismo da época. O enlace matrimonial se deu no dia 29 de julho de 1950. Veio o casamento e a casa nova. Mudaram-se para a Vila Tanque, precisamente à Rua 17. E D. Efigênia com eles. O casal teve 15 filhos e destes, 12 estão entre nós. Mas Zé Teco criou outros dois. Era assim, uma pessoa de coração imenso. Mas sua sina não foi nada fácil, já que enviuvou-se muito cedo. Sua amada partiu em novembro de 1969, aos 39 anos de idade. E forte, homem de muita fé e devoto de Nossa Senhora Aparecida, ao lado da mãe, ele criou todos os filhos, todos pequenos, dando-lhes educação e orgulho. E nunca mais se casou. Hoje todos criados, deram-lhes 26 netos e 12 bisnetos. Aposentou-se da Belgo-Mineira em 26 de maio de 1973. Ah, sobre as datas? Zé Teco em todas as informações data os fatos que marcaram sua vida em detalhes, com dia, mês e ano. “Impressionante a memória de pai”, disse uma das filhas que acompanhava a nossa conversa.

  Mas, a grande paixão da vida de Zé Teco, além da amada e saudosa esposa, de sua mãe, falecida em 1987, os filhos, ou seja, a família no todo, como suporte sustentável, foram os Conjuntos Musicais que ele fundou e que durante quase meio século, fez centenas de bailes pelos clubes de Monlevade e região, além de também se apresentar em cidades do Vale do Aço e da Zona da Mata. A primeira delas foi a Banda “Guarani”, cujo início se deu em 1961, ou melhor, em 26 de maio de 1961, e cujo 1º baile se deu no Clube de Caça e Pesca. O Grupo era formado por Zé Teco, Seu Dico, Benedito Valadares, Claudinho, Seu Nenen, Zé Luiz e Jair. E dali os convites não pararam mais e somente no Caça e Pesca foram 11 carnavais consecutivos. Também fizeram muitos bailes nos clubes da cidade: União, Ideal e Social Clube, e outras bandas surgiram, com algumas trocas de músicos, e de nomes curiosos – alguns tirados de filmes de faroeste e de revistas de bolsos, duas paixões de Zé Teco – entre eles o “The Lonely”, “The Chayenes”, “The Sunshine” e o “Som-Five”. E vários músicos foram descobertos na era de Zé Teco. “A gente veio depois da Orquestra do Macedo, a convite do então presidente do Caça e Pesca, Raimundo Nonato, e recebíamos 4 mil e 500 reais por cada baile. No começo cantava no gogó, porque não havia as caixas. Mais tarde que fomos comprando a aparelhagem. E fazíamos de tudo, desde o transporte até carregar os instrumentos e caixas, que eram muito pesadas. Na nossa época levamos para o Club cerca de 2.500 associados”. Durante alguns anos seguidos, fazíamos as horas-dançantes no Caça e Pesca, à tarde, e à noite os bailes no União, sempre aos domingos”, disse orgulhoso. E realmente foi uma época de ouro para a música monlevadense, com Zé Teco e sua linda voz comandando seus conjuntos musicais. Foi ainda presidente da Ordem dos Músicos de João Monlevade por quase 40 anos, sempre atuante.

Aqui com um dos conjuntos musicais que criou, o famoso “The Lonely”, onde aparecem, entre outros músicos, Ferreira, Nilton Canuto, Seu Nenen, Maurício e Bené

  Causos não lhe faltam. Como disse no início da entrevista, “dá para gente passar o dia todo contando histórias que tenho pra contar”. Atleticano apaixonado, houve uma época que sua casa vivia lotada de atleticanos para assistirem a jogos do Galo. Raríssimas eram as casas que tinham Parabólica e TV paga, nem pensar! Quando Zé Teco, à frente de seu tempo, com apenas um Buster em mãos, improvisou uma antena e, virada para a região dos “Macacos” (início da estrada do Forninho), conseguia captar o famoso “Duplo Sinal”. Na Vila Tanque, ninguém conseguia o sinal. E sua casa, localizada ali Contorno, 222, ficava lotada “No início vinham alguns amigos ver o jogo do Galo comigo, como Seu Salvador Linhares e Maurício Araújo. Mas depois a meninada começou a tomar conta e invadia minha varanda e minha sala, e virou bagunço. Tive de parar. Aí voltei a ouvir os jogos do meu Galo com o velho radinho, comprado ainda na Praça do Mercado, nas mãos do Milton Ourivio”, disse ele, com uma boa gargalhada.

Um Ser Humano Maravilhoso

  Aqui paramos esta prosa com ar de “quero mais”. Mostrando um pedacinho da história do Sr. José Domingues, grande “Zé Teco”, que tem como roby, colecionar notas e moedas antigas. Foi uma honra conhecer um pouco mais desta pessoa humana fantástica, e cujas homenagens recebidas em João Monlevade são tão pequenas, diante das inúmeras obras que realizou para nossa cidade. Continue com esta vivacidade e força! E que seu sonho possa se concretizar nos próximos meses. Com a colaboração do radialista Alex Ribeiro, da Rádio Cultura/AM, ele estará em Aparecida do Norte em julho próximo, quando deverá agendar uma data para se apresentar na TV Aparecida, em Rede Nacional, para cantar a Música de Nossa Senhora. “É um sonho antigo. Já cantei na Rádio Aparecida, mas agora tenho este enorme desejo de ter a honra e graça de poder cantar esta música para Nossa Senhora, na TV. E vou conseguir, se Deus quiser, com a intercessão de Nossa Senhora Aparecida”, concluiu emocionado.

Infelizmente seu sonho não se realizou, e “Zé Teco faleceu no dia 17 de março de 2019, um dia após o seu aniversári. Era um domingo, assistindo à Santa Missa pela TV Aparecida. E tivemos a felicidade de homenageá-lo em vida.

*Matéria publicada na edição de nº 165 do “Morro do Geo”, de abril/2018.

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