Dona Petiche: a história da “Dama da Educação” – Por Marcelo Melo!

Dona Petiche, quando diretora da Escola E. Eugência Scharlé, no Bairro Vila Tanque. Aqui ela recebia a visita de esposas de diretores da Belgo-Mineira. Uma senhora sempre solícita e educada, cuja marca foi a educação, a família e a simplicidade

Estávamos no mês de março de 2002 e o nosso periódico, o “Morro do Geo”, chegava ao seu 2º ano de circulação. Chegávamos à edição de nº 28 e, como era comum naquela época, sempre fazíamos uma entrevista com pessoas que faziam parte da história de João Monlevade. A página 02 sempre foi registrada para um bate-papo com antigos moradores e que tão bem vivenciaram o desenvolvimento sócio-econômico do município. A nossa primeira entrevistada foi Maria Luzia de Oliveira, “Luzia do Cartório”, eleita a “Monlevadense do Século” em um concurso organizado pela “AMI” – Associação Monlevadense de Imprensa.

E outros tantos personagens desfilaram pelas páginas 02 do “Morro do Geo”, entre elas a ilustre pessoa de Maria das Dores Neponuceno Leite, popular “Dona Petiche”, falecida no dia 16 de outubro de 2011, aos 94 de anos de idade, e muito bem vividos. E vamos aqui transcrever parte da entrevista a nós concedida pela Mestra, pela “Dama da Educação” de João Monlevade, em sua residência, localizada à Rua Ayres Quaresma, em Carneirinhos, num dia 12 de março. Ela estava acompanhada das filhas Maria trindade e Nícia. Na sua mais completa lucidez e vivacidade, aos 85 anos incompletos.

Uma Mulher educadora que venceu em João Monlevade

Nascida em São Domingos do Prata, em 8 de agosto de 1917, Maria das Dores Neponuceno Leite, começou o bate-papo bem descontraída, e brincou ao dizer que “apesar de ter nascido em 1917, só tenho 48 anos”. Sorridente e brincalhona e com a memória afiada, À mesa um cafezinho feito na hora e um biscoito de polvilho. Nada formal. E na hora de iniciarmos a conversa, uma notícia nada agradável: Dona Petiche detestava conceder entrevistas. E pensei: – o que faço agora? Mas fizemos algumas anotações na agenda e levaríamos o material par a redação e começaria a transportar aquilo para o computador. Mas, à noite daquele mesmo 12 de março de 2002, uma surpresa agradável. A filha Nícia, professora da Funcec, chegou à minha sala (fazia o 1º período de Jornalismo) com algumas folhas de caderno escritas. Era um relato da vida de Dona Petiche, escrita do próprio punho. Lendo e relendo senti um misto de espanto e emoção de reparar na letra firme em mãos de uma senhora de 85 anos. Fiz ali uma viagem. A dama do ensino em Monlevade e de quem eu tive o prazer de ter sido aluno em meu período de Admissão, há 32 anos. Ali, na Rua 22, Vila Tanque, onde morava a mestra com seu esposo e filhos.

Esta fotografia abaixo, de 1970, registrou a visita do então prefeito de João Monlevade, Germin Loureiro (Bio), e da 1ª Dama, Dona Zarif, à escola. Aqui, entre outros colegas, Heloisa, Geraldo Esteves Sobrinho, Mundêgo, Ronaldo, Nilvânia, Vanderli Duarte,Arlete, Anelina , Ana Maria Caixêta, Barbosa, Luiz Gonzaga, Eteval, eu, Caldeira, Lia Barros, Marlene, Ângela Rosa, Arlete, Patrícia, Cássia, Aparecida Braga, Janete e Lêda. Ainda na fotografia, as professoras D. Petiche e D. Maria do Rosário, o prefeito Bio, D. Zarif e o motorista Randolfo

Abaixo, a carta encaminhada a mim pela Dona Petiche, transcrita na íntegra:

“Cheguei em Monlevade em 1939, indo trabalhar primeiramente na Singer com o professora de Corte e Costura, com Dona Anita Gerhart; depois trabalhei na alfaiataria de J. Trindade. Em 1942, fui contratada pela Belgo-Mineira como professora, para ministrar aulas na 1ª série, em substituição à Dona Maria de Freitas. Dava aulas de 12 às 16 horas e, à noite, aula de alfabetização para pessoas adultas que trabalhavam na Usina. A diretora era a saudosa Dona Carlota Santa Rosa e as professoras eram Conceição Malta, Lilia Malta, Lury, Terezinha, Débora de Freitas, Dia, Zira, Luzia de Melo e outras cujos nomes não me lembro no momento. Trabalhei depois, como diretora na Escola Dr. Francisco Pinto, mas permaneci no Grupo Central no período da tarde. Quanto à Dona Carlota, a diretora, nem precisava chamar atenção. Bastava o seu pisado forte.

Logo depois assumiu a direção o Sr. Armando, um homem íntegro e muito educado. Lembro-me quando, na hora do recreio, nós, professoras, deixávamos alunos no pátio e íamos ao Empório, na casa do Sr. Ananias (Zé Gordo) comprar alguma coisa. Mas, certo dia demoramos mais e nos esquecemos do sinal. Fomos correndo para a sala de aula e, quando lá chegamos, o Sr. Armando encontrava-se na frente de várias turmas. Uma dez. Ele não chamou a atenção diretamente; disse apenas que as turmas estavam entregues. Todas no pátio. Aquilo nos serviu de lição e nunca mais se repetiu.

Havia também a Escola do Minério, que ficava ali no trevo de acesso ao Bairro Vila Tanque e onde está hoje o estádio Louis Ensch. O diretor era o Dr. Francisco. Lembro-me uma vez, quando dava aula de alfabetização e escrevi no quadro negro a palavra Água. Era o assunto que estudaríamos naquela noite. Um aluno, ao chegar à sala de aula, disse que sabia o que estava escrito e foi logo afirmando: – é angu. Sorri e disse que só faltava o fubá. Foi uma gargalhada geral. Também havia o apelido dado pelos alunos. Quando íamos da Escola do Minério para o grupo Central, os meninos sempre diziam: – lá estão chegando os pés de pomba. Por causa do minério. Era muito divertido”.

Ela fala da Belgo-Mineira

Dona Petiche sempre citou a Belgo-Mineira em seus escritos. Em seus escritos, ela disse que a empresa sempre foi ótima para as escolas e o seu corpo docente. E completou; “Mas também para todo o povo monlevadense. Não há o que reclamar”.

Para relembrar, ela voltou ao tempo em que ingressou na Belgo-Mineira, em 9 de fevereiro de 1942. “Escrevi uma carta ao Dr. Louis Ensch e uma semana depois ele mandou-se Dr. Joseph Hein me chamar no escritório. Fui então à sala do Sr. Adhemar Soares e de lá saí com a carteira assinada, que foi feita pelo Sr. Edil Peixoto”.

E, entre uma pausa e outra, na carta que enviou à nossa redação, Dona Petiche relembra dos tempos da Pensão Grande, do salão de cabeleireiro do Sr. Otaviano, da barraca de aviamentos, do grupo de tábua, da Leiteria, do Saps, da casa de comércio do Sr. Zé Gordo, da professora e amiga Conceição Malta, do caminho para o Grêmio, da casa de comércio de Geraldo de Assis, das três casas, da amiga Dona Maria do Rosário, do campo do Jacuí, da padaria de Antônio Geo, do Matadouro e da Pedreira. Ah, ainda a Fazenda Solar e as missas celebradas na Capela pelo Cônego Higino. Da Dona Francisca, que tomava conta da fazenda, mãe de Oscarlina e que foi casada com o pai de Dely Formiga. “Lembro-me das festas e das ornamentações, que eram feitas por mim e pelo Sr. Nicácio. Quanta saudade dos tempos que não podem mais retornar, como andar de Charrete de onde morava até a Escola do Minério”,

Pois é, mas esta é a vida desta grande senhora, referência na área educacional. Viúva, foi casada durante quase 40 anos com o Sr. João Cirilo Leite, com quem teve sete filhos, netos e bisnetos.

Esta foto ficou marcante durante encontro dessas duas amigas, Dona Petiche (E) e Conceição Malta, quando foram homenageadas pela passagem do Dia dos Professores, no início dos anos 2000. Marca registrada desses dois ícones da educação em João Monlevade

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