Não dá para esquecer… Coramar Alves!

Com o presente na cabeça, o futuro nas costas e o passado na frente, mergulhada na docilidade perfeita da lembrança, sou só saudades. Fácil lembrar. A vida no passado, com sua História gostosa, ficou impressa na memória como um teipe de televisão que se pode rever muitas vezes com o coração a tamborilar.

Lá fora a chuva rola ininterrupta. Relâmpagos como um clarão de artifício, tossem…tossem… Hoje também não há luar. Aí, nesses dias pluviosos o presente me retoma à época em que eu era criança-feliz. Lá fora as águas estão rolando. O céu dorme. Eu? Quando me sinto é com saudades de mim. É… ainda estou sob o espírito de Natal.

Nesta vida estamos todos inseridos como partes unidas pelo fluir amoroso e peculiar a cada dia ou a cada era. A mais profunda é a percepção do fluir de Deus que nos anima e irmana. Há sempre um novo Natal e o brilho da noite que encanta crianças e adultos invade a terra, as ruas, árvores, casas, prédios e monumentos. Nos faz desfrutar de uma beleza, de um fascínio contagiante que desperta o espírito da festa de nascimento de Cristo e junto a esperança. Que com a estrela de Belém venha a paz ao mundo e a todos que sintonizam sua luz.

Entre os símbolos natalinos os cartões de Natal são bem-vindos por demais! Uma tradição que se iniciou em Londres, em 1834. Um prazer imenso nos afaga ao recebê-los. Há muito os ganho e sempre me emocionam. As palavras neles contidas são permutas entre amigos, entre pessoas que admiramos, que queremos bem.Um deles, neste tempo, belo e cheio de charme e tradição, foi do jovem pioneiro, o engenheiro Gerson Alves Menezes, gerente da Belgo-Usina de Monlevade, um apaixonado também pela minha cidade natal, empenhado no progresso e em resgatar e preservar a História de nossa João Monlevade. O mesmo amor cultivamos pela terra de Jean Antoine Felix Dissendes Monlevade.

Como caíram tantas águas nublou-se o horizonte, nublou-se todo o vale do Piracicaba. O arco-íris saltou como serpente mas já foi embora. Quantos natais inesquecíveis. Alguns fizeram parte de momentos atônitos, como quando vestiram o Duca Pinduca Ladrão de Açúcar de Papai Noel. Idéia dos comerciantes da lendária Praça do Mercado, entre eles senhor Humberto Spechit, José Gordo, Milton Ourivio, Onofre Machado, José Braz, Didico da relojoaria e alguns além de comerciantes, também eram empregados da Belgo-Mineira como o senhor Nonô Batista, Juventino Caldeira e Agenor Rodrigues Alves, meu paizão.

A mais agitada festa de Natal teve o imprescindível patrocínio da Belgo-Mineira, aliás como sempre acontecia em tudo na terra-amada. O saudoso Grêmio Esportivo foi o palco, tendo um cenário de novela Global, que não dá para esquecer, quando aconteceu de tudo que se possa imaginar… Ah!Ah!Ah!… As nossas Histórias são todas sensações. Lembro com os olhos e com os ouvidos, com as mãos e os pés, com o nariz e a boca e depois quase morro de saudades e de rir.

Sempre pronto a meter-se em aventuras extraordinárias, mirabolantes, por vezes praticava atos não recomendáveis, principalmente quando alguém gritava: Duca Pinduca Ladrão de Açúcar… Acontecia um terremoto no tranqüilo Pedacinho do Céu. Há quem diga ter sido ele um desmiolado, sempre disposto a pregar peças às pessoas que com ele bulisse. Usava de sua agilidade para correr e salvar-se dos apuros com que se envolvia a cada passo, não dispensando a força do braço para jogar pedras. Não existia outro igual. E para apoderar-se do açúcar na Praça do Mercado? E no Armazém do Geo? Certa vez, correndo com um saco de açúcar nas costas, rolou Morro do Geo abaixo, passou pela linha do trem indo parar no Bar do Daniel, com o saco arrebentando no Daniel que de costas tratava do seu passarinho de estimação, descendo também seu suspensório. Apesar de suas maluquices Duca era um homem bom.

Pois bem, vamos à festa. O saudoso Grêmio lotado de crianças, pais, mães, gringos e brasileiros. A Banda de Música do Macedo tocava sem parar. O carismático Acrízio corria atrás do grande Dr. Hein se desmanchando em cortesias, certamente com arrazoado oratório na ponta da língua. A multidão em escarcéu aguardava a chegada do Papai Noel.

Lá pelas tantas, quando todos se divertiam, a“Furiosa” tocando, pipocas, refrigerantes, balas e pirulitos, algodão doce, tudo à vontade, um foguetório sobe aos céus da amada terra anunciando a chegada do Papai Noel que em um carro alegórico abarrotado de presentes, agitava os traços sem parar.

Então, o que não podia acontecer… aconteceu. Uma voz ecoa: Duca Pinduca Ladrão de Açúcar.
O Grêmio estremeceu. Uma balbúrdia extraordinária, indescritível tomou conta, sob a hipnose do riso. Era um fervilhar de presentes voando para todos os lados. Brinquedos em vôo rasante passavam pelas cabeças. O pouca-telha, Dr. Parreiras, recebeu uma bonecada na cabeça e saiu caminhando como um cágado. Padre Higino levantou a batina e corria furioso pra lá pra cá. O bondoso Dr. Hein não se continha em boas gargalhadas, olhos esbugalhados não perdia nada. A criançada corria por todo lado atrás de variados brinquedos. Aliás todos ali presentes catavam presentes. O Duca? Depois de atirar tudo em várias direções, desceu do jipe com o saco do Papai Noel cheio. Ninguém conseguiu detê-lo. Sumiu… Ninguém viu se foi para as bandas da Cidade Alta, da Pedreira, do Jacuí, da Caixa d’água ou para as matas atrás da bela Matriz São José Operário. Saiu como um vendaval.

Dou-me por muito feliz em ter vivido esta época, de ver tudo isto, porque acabou. Tempo bom.
Ah! Saudade… saudade que corre como esta chuva sobre os telhados. O tempo cai acerca de mim feito ontem.

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