A Vila narrada por sua gente! Uma homenagem à saudosa Marcolina Maria Balbino, popular “Filinha”. – Por Marcelo Melo!

“Como diz aquele samba de Noel Rosa, “Feitiço da Vila”, composto nos anos de 1930: “quem nasce lá na Vila, nem sequer vacila ao abraçar o samba… Eu sei tudo que faço, sei por onde passo, paixão não me aniquila. Mas tenho que dizer, modéstia à parte, meus senhores, eu sou da Vila”. Noel Rosa falava da Vila Isabel, mas “roubando” seus versos, eu irei usá-los para uma outra Vila, bem mineira, que integra a nossa cidade. Com vocês, a Vila Tanque, um dos bairros mais antigos e tradicionais de nossa João Monlevade! Mas, muitas coincidências se acumulam, porque também na nossa Vila se gosta de samba e se tem lindas mulheres. Aliás, belas e guerreiras.

Aqui a Vila é narrada por sua gente, representada pela professora Maria de Fátima Gomes, filha dos saudosos Senhor Altivo e de Dona Maria Firma Gomes, ou popularmente conhecida como “Maria de Seu Altivo”. Entre o povo do interior, sempre foi comum tratar a mulher casada com o seu nome sempre acompanhado “de Seu”…, referindo aí ao nome do esposo. E de uma forma sutil e muito bem redigida, ela fala da Vila e de seus personagens. Fala da luta operária e do trabalho das esposas em ajudar os maridos no sustento das casas, geralmente em famílias numerosas. E ela se mira no exemplo da Mulheres de Atenas, sempre fortes e corajosas. Fala da formação social do pequeno lugarejo até a sua alavancada econômica e social.

Para a moradora Maria de Fátima, o processo de industrialização foi a marca registrada da era moderna no interior mineiro. O distrito permutava o pó da terra vermelha, as carroças, o cinturão verde orvalhado e as casas de pau-a-pique, por um pó ferruginoso, com veículos motorizados, a indústria e vários tipos arquitetônicos residenciais. Assim como a ciência social se ocupa do homem como um ser – que criou e desenvolveu uma vida coletiva -, assim também é a nossa Vila; independente, dinâmica, en-volvente. Com a sua cultura, o seu folclore, a sua economia formal e informal efervescente.

É interessante ao homem o viver em grupo, e a Vila Tanque, pertencente à 1ª Vila Operária da América Latina, proporcionou e iniciou-se de forma coletiva e, essencialmente, social, de forma a adquirir, variar e perpetua-se, em uma época que pouco se falava em sociedade, mas com efetiva prática social no cotidiano daquelas pessoas, desde as esposas aos operários.

A expansão da siderurgia monlevadense se projeta após a 2ª Guerra Mundial e, por volta de 1955, o marco da economia informal na Vila, onde vários moradores partiram para aberturas de negócios próprios. Quem se lembra muito bem disto é o aposentado, metalúrgico politizado, o José Francisco, conhecido “Curió”. Um dos bons e colegas “Boieiro” da época. Nasce ali uma geração que implanta a economia informal, como as cabeleireiras Dona Abigail e Maria, as bordadeiras Dona Lia, Eni de Sô Ninho, Maria de Pedro e Dona Mercês de Delfim. E, dentro da economia formal, surgiam os primeiros comerciantes da época, como as Casas Sampaio, a Casa Pessoa, o Bar de Seu Adil e a Mercearia de João Arthuzo.

Matéria publicada na edição de nº 162 do jornal “Morro do Geo”, de junho/2012

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